sexta-feira, 17 de junho de 2016

Falsa Descoberta

Final de 2010. Termino o primeiro ano de harpa, sofrendo muito porque tinha terminado o primeiro semestre e ainda não havia digerido muito bem o que aconteceu comigo em questões emocionais, financeiras e físicas. Meu corpo não estava reagindo a tanta pressão e ansiedade por aprender um instrumento que eu tanto almejei, mas não conseguia mais encontrar fontes de energia pra continuar. Aproximadamente em julho eu consegui um emprego no antigo Banco Real. Era algo que me ajudava bastante na questão financeira, mas ainda não era o que eu realmente queria. Eu tinha um supervisor, que sempre visitava a agência onde eu estava trabalhando, e ele era gay. Muito gay. Não que eu fosse homofóbico, mas a delicadeza dos gestos e da forma de falar me incomodavam. Continuei durante os primeiros meses de experiência (pois era uma empresa terceirizada, que contratava promotores para o banco) eu resolvi juntar um pouco mais de dinheiro pra conseguir estudar no ano de 2011. 

O que mais me chamou a atenção durante esse período é que um rapaz, Denis Fazoralle, entrou em contato através do MSN (sim... isso tudo aconteceu na época do Orkut/Msn). Achei extremamente incômodo um cara da capital entrar em contato comigo e eu não saber o que fazer, até que perguntei quem era e como havia conseguido meu e-mail para contato no MSN. Ele respondeu muitas coisas: era uns 3 anos mais velho que eu, mandou algumas fotos (branco, alto, olhos claros, perfeito italianinho), morava no Morumbi, trabalhava na Wolksvagen e algumas outras coisas menos importantes, mas havia encontrado meu MSN numa comunidade do orkut chamada "eu amo quem não me ama". Não fazia ideia do que eu havia postado nessa comunidade, porém continuei a conversa com o Denis a fim de descobrir quem estava por trás daquele perfil fake - achava que era algum amigo ou vizinho do condomínio querendo descobrir algo que não fazia parte da minha personalidade. 

Quanto mais eu conversava, mais eu queria saber como era, o que gostava, sobre o que gostava de ler. Chegamos até a abrir conversa por câmera no MSN, mas houve um pequeno detalhe: a câmera dele nunca funcionava, e não tinha microfone, ou seja, apenas minha imagem e minha voz era transmitida. Ele soube de tudo da minha vida, desde cor de roupa a número do RG. Sabia onde eu morava e com quem eu morava, e eu sabia quase nada sobre ele. Eu estava entregue a uma pessoa que nunca tinha visto na vida e, mesmo assim, conversávamos TODOS os dias e assim ele havia se tornado um confidente, um amigo virtual e eu gostava de poder me abrir para uma pessoa que não fazia parte da minha vida.

Certo dia, o Denis comentou que teria que viajar para Belo Horizonte a trabalho, e passaria o final de semana por lá. Eu, aqui em campinas/SP, fiquei de sexta a segunda sem falar com ele. Para minha surpresa, no sábado me dei conta que, durante o banho, eu estava CHORANDO de saudade de conversar com aquele infeliz que havia viajado para BH. Quando ele retornou, comentei o que havia acontecido, mas também quis saber o motivo de ele ter me adicionado no MSN: ele havia visto minha foto do perfil do Orkut e me achou bonito!

BONITO??? LOGO EU??? 

Nunca segui nenhum padrão de beleza, nunca segui regras de alimentação, descanso e musculação, nunca cuidei do cabelo ou da sobrancelha. E outro homem estava dizendo que me achou bonito? Não... com certeza era algum amigo tirando onda da minha cara. Mas se dar ao trabalho de ficar tanto tempo , por dias, conversando comigo era algo inquestionável: ele era real e estava me dizendo que me achou bonito. Conversa vai, conversa vem, ele resolveu assumir que sentia atração por outros homens, porém nunca se envolveu com ninguém. E eu? Eu nunca tinha beijado! Nem sequer um selinho! O Denis ficou "louco" com a notícia e começamos a trocar experiências e traumas...

Naquela noite, me lembro que olhava para o teto do quarto e conseguia visualizar o rosto dele vindo em minha direção. Me senti leve, feliz. Mesmo assim, era algo que eu precisava guardar apenar pra mim, porque não podia ser gay por causa da família, da igreja, da vizinhança, dos "bons costumes" (detalhe pro instrumento que eu havia escolhido estudar...).