segunda-feira, 8 de maio de 2017

O início do fim

Início de 2011... eu tentava conciliar os estudos de harpa em São Paulo com o trabalho terceirizado no Banco Real, mas era quase insuportável... saía correndo do banco pra poder chegar a tempo na capital, pois a professora era idosa e fazia o máximo para permanecer na escola até que eu chegasse, sem contar as aulas que eu tinha três vezes na semana durante a noite. Chegava em campinas novamente às 1:00h, geralmente. Eu pegava um ticket refeição que minha mãe me dava todos os dias (R$8,00) e comprava um suco e dois salgados - isso era minha refeição do dia. Andava da estação Sumaré até a estação Vergueiro a pé, ida e volta, todos os dias, pra não gastar dinheiro com metrô. Quando não aguentava andar, vendia o meu ticket por duas passagens de metrô e ficava sem comer o dia inteiro, forrando o estômago com água (e café, quando me ofereciam da cozinha). Eu queria usar o máximo de tempo que tinha para estudar e conseguir crescer na música, mas os obstáculos ficavam cada vez maiores. Pra não parar de estudar, cheguei até a fazer uma "capa" de 'super bonder' no dedo pra não sofrer com as bolhas que estouravam e o sangue que escorria nas minhas mãos. Quando era 19h, eu me trancava na sala de harpa e ficava quieto, com as luzes apagadas, até que o segurança da escola fosse embora (aproximadamente meia noite). Quando ele ia, eu pegava algumas partituras e livros que estavam no armário e usava de travesseiro, e a capa de uma das harpas (que estava quebrada) eu usava de cobertor pra aguentar o frio de março, maio e junho. Quando o segurança me descobria, eu pegava alguns jornais do dia e ficava debaixo de um banco no centro cultural que ficava em frente à escola e voltava pra campinas no final do dia seguinte...

Uma das pessoas que me via andando pelas ruas ficou surpresa pela persistência e me chamou pra conversar... Pra manter o sigilo do nome eu o chamarei de "E". Ele me chamou até sua casa pra que eu pudesse contar um pouco sobre o que eu fazia em são paulo, pq chamava a atenção de algumas pessoas que, rotineiramente, passavam em frente à escola de música. Durante essa conversa, ele me ofereceu um pouco de água e eu aceitei. Seu apartamento era bem arrumado, extremamente organizado e 'vazio'. O acesso à cozinha se dava por uma porta sanfonada que permitia uns 60m de passagem apenas. Eu, como convidado, o deixei sair da cozinha primeiro. Ele, como anfitrião, fez o mesmo. Saímos ao mesmo tempo e, por termos praticamente a mesma altura, nos esbarramos e foi então que dei o "primeiro beijo" da minha vida... Bizarro, eu sei, mas eu não ficaria tão surpreso se o meu primeiro beijo - até mesmo selinho - fosse aos 24 anos dessa forma! Pra não deixar mais estranho, vou apenas dizer que ele tem mais de 50 anos.

Na hora, eu perdi totalmente o controle das minhas ações e reações. Não sabia o que pensar. Minhas idas à capital eram com outras intenções e, num acidente de gentilezas, comecei a perder minha inocência... voltei a campinas no mesmo dia, e não era mais virgem...


Nenhum comentário: